Ao lermos as primeiras publicações psicanalíticas podemos verificar o empenho
de Freud em fazer com que o campo médico reconhecesse a importância dos
fenômenos subjetivos na etiologia das doenças nervosas. Nessa época, sob a
influência de Charcot, Freud começa a tratar seus pacientes através do método
catártico fazendo uso do hipnotismo e da sugestão como forma de fazer
desaparecer os sintomas. O abandono do método catártico deu-se a partir da
descoberta da existência de uma sobredeterminação psíquica na gênese das
neuroses, ou seja, uma multiplicidade de fatores psíquicos que determinam seu
surgimento.
Freud relata que a transformação do
método catártico (sugestivo) em psicanálise foi possível a partir da descoberta
de novos fatores, tal como nos
informa:
Entre os outros fatores que foram acrescentados ao
processo catártico como resultado de meu trabalho e que o transformou em psicanálise, posso mencionar em particular a teoria
do recalque e da resistência, o reconhecimento da sexualidade infantil e a
interpretação e exploração de sonhos como fonte de conhecimento do inconsciente. (FREUD, 1914 p.25).
Os conceitos
acima mencionados foram construídos a partir das análises efetuadas por Freud
em sua clínica e constituem os pressupostos que sustentam a metapsicologia
freudiana. Destacamos que foram os equívocos e os insucessos experimentados nos
primeiros anos de sua prática, que permitiram a Freud se interrogar sobre a
natureza dos fenômenos que presenciava a cada encontro com seus pacientes.
Conclui-se, portanto, que há uma
especificidade própria no campo psicanalítico que é indissociável da
experiência. A experiência freudiana e a predominância de seu desejo
constituem-se como a pedra fundamental sobre a qual foi construída a
metapsicologia freudiana.
A construção do campo psicanalítico deu-se a partir do gradativo afastamento de Freud do modelo médico, seguido do luto pelos ideais que permeiam esse campo, e seu avanço no sentido de aprofundar suas pesquisas a respeito do aparelho psíquico humano. O desejo de saber de Freud foi o ponto de partida para a construção do campo psicanalítico e nesse sentido, Cottet assevera que considerar o desejo de Freud como sendo à base de sua construção teórica não invalida seu discurso, e que, a dependência de cada psicanalista em relação a esse desejo é que pode evitar a crescente degradação de seus conceitos.
A construção do campo psicanalítico deu-se a partir do gradativo afastamento de Freud do modelo médico, seguido do luto pelos ideais que permeiam esse campo, e seu avanço no sentido de aprofundar suas pesquisas a respeito do aparelho psíquico humano. O desejo de saber de Freud foi o ponto de partida para a construção do campo psicanalítico e nesse sentido, Cottet assevera que considerar o desejo de Freud como sendo à base de sua construção teórica não invalida seu discurso, e que, a dependência de cada psicanalista em relação a esse desejo é que pode evitar a crescente degradação de seus conceitos.
Nota-se, portanto, que a especificidade do campo psicanalítico
encontra-se ligada ao ser do próprio analista e à dimensão de sua experiência,
enquanto herdeiro do desejo do criador da psicanálise.
O que diferencia o campo
psicanalítico do campo médico é a dimensão da experiência, pois é a partir do
encontro singular entre o psicanalista e seu analisando que um saber pode vir a
se constituir num a posteriori. Freud
nos ensina que a experiência psicanalítica não se dá a partir de um saber já
instituído e tomado como universal. O campo médico, por sua vez, por ser regido
pelas leis da ciência, coloca-se como detentor de uma verdade universal.
A ética própria ao campo
psicanalítico, tal como Freud a concebeu, faz com que o analista escute o
sujeito a partir de seu inconsciente permitindo que um saber se constitua do
lado do sujeito, ao mesmo tempo em que este é levado a se responsabilizar pela
posição que ocupa perante a vida.
Entretanto, é necessário que o analista passe pelo mesmo processo
vivenciado por Freud, tal como afirma Leite, “de desconstrução dos ideais
previamente estabelecidos, e das formas que se coloquem como absolutas”,
distanciando-se da “lógica presente no
campo médico e, conseqüentemente, com uma dada moral presente no campo cultural
de sua época”.
Referencias:
COTTET,
Serge. Freud e o desejo do psicanalista. Rio de Janeiro: J. Zahar. 1989.
ELIA,
Luciano. Psicanálise: clinica & pesquisa in: ALBERTI, Sonia e ELIA, Luciano
(orgs) Clínica e pesquisa em psicanálise. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos,
2000.
FREUD,
Sigmund. Edição Standard Brasileira das
Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
_________.(1914)
A história do Movimento Psicanalítico. Vol. XIV.
_________.
(1919) Linhas de processo na terapia analítica. Vol.XVII
_________.
(1912) Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. Vol.XII.
_________.
(1933) Análise terminável e interminável. Vol.XXIII.
LEITE,
Sonia. Considerações sobre a experiência psicanalítica. Acheronta Revista
Psicoanálisis e Cultura. Vol. 9. Julho/1999. Disponível em www.acheronta.org
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