segunda-feira, 1 de junho de 2009

"O mal-estar na civilização"

A sociedade contemporânea com seu excessivo pragmatismo tem conduzido a humanidade a buscar um gozo sem limites. O que é vendido é “Você pode tudo!” ou “Você merece isso ou aquilo!” e ainda mais “Seja feliz! Realize seus sonhos!”. Um ideal de felicidade ligado ao consumismo leva as pessoas a tentar preencher seu vazio existencial praticando excessos. Compra-se muito, come-se muito, bebe-se cada vez mais, faz-se cada vez mais sexo e o mal estar nunca passa. O ideal do “eu posso gozar” não dá conta das conseqüências que vem depois. O sofrimento tem que ser evitado a qualquer custo, no lugar da tristeza Prozac, em vez de angústia, Rivotril. Assim, estamos diante de uma sociedade que não encara suas angústias, que não suporta nenhuma falta. Ironicamente, quanto mais medicamentos são colocados no mercado prometendo a tão sonhada felicidade mais aumentam o número de pessoas com depressão, síndrome do pânico, etc..

Freud em seu artigo “O mal-estar na civilização” afirma que o mal-estar é uma marca estrutural do ser humano. Para explicar essa máxima Freud coloca que o ser humano busca constantemente a realização da satisfação, do prazer absoluto, porém, essa satisfação é impossível de realizar num mundo carente e escasso de recursos. Freud afirma que o advento da civilização impôs ao homem uma perda de satisfação pulsional, o que serviu para revelar que o homem “não pode tudo”.

Segundo Freud todo sujeito nasce inserido em uma cultura caracterizada por coordenadas simbólicas herdadas da família. O bebê quando nasce já vem dominado pelo campo simbólico, que nada tem a ver com as leis da natureza. O homem está inserido na cultura e na civilização e é isso que o constitui como sujeito. É a partir da linguagem, dos símbolos, que o homem perde a relação direta com a natureza, e é isso que sustenta o que chamamos de “cultura”. Há então, uma condição estrutural: “não há sujeito fora da cultura”. O campo da linguagem constitui a cultura e a cultura constitui o sujeito.

A proibição do incesto traz consigo a perca estrutural que organiza a cultura. A lei do incesto estruturalmente quer dizer que o gozo absoluto é impossível e que, portanto, em toda cultura há um determinado objeto que naquela cultura simbolize que o gozo absoluto é impossível.

Para Freud então, o mal estar que existe na civilização é marcado pela travessia do Édipo, que possibilita ao sujeito amar outro objeto, que não seja a mãe. Essa impossibilidade de satisfação total instala o que chamamos de civilização. A civilização se organiza em torno da proibição da satisfação pulsional.

Ao contrário do que muitos pensam, o raciocínio freudiano nos ajuda a compreender que é necessário que o homem aprenda a conviver com a falta, com a angústia que o constitui e que nessa vida, não há como vivermos sem sentir alguma insatisfação.

2 comentários:

  1. Agora eu vou ler o "mal-estar"...rs* Gostei muito do seu texto, maninha. Nunca me esqueço de ti. Deus deu a possibilidade de nos "encontrarmos" de verdade. Hoje sei o quanto isso foi providencial. Amo você.

    Beijos

    PS: Aqui está fazendo um frio teresopolitano

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  2. Joana tudo que você descreveu neste texto foi muito bom para mim refletir um pouco e quanto as pessoas buscam em algo para suprir sua insatisfação na alma, um abraço!

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