domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre a origem e a função do pensamento em Freud

Falar a respeito da constituição da realidade é o mesmo que apontar as condições estruturais que possibilitam a existência do sujeito humano. Esse tema é caro para a psicanálise, na medida em que desconstrói tudo o que se possa referir a respeito da racionalidade do homem. Talvez possamos pensar que a noção de “realidade psíquica” seja a verdadeira inovação introduzida por Freud em sua delimitação do campo psicanalítico.
            É fato que Freud distingue a “realidade externa” da “realidade psíquica”.  A primeira designa tudo que é apreendido pelo sujeito a partir do mundo exterior e a segunda abrange de um lado as fantasias de desejo instituídas pelo eu e de outro, a apropriação que ele faz da realidade externa.  Entretanto, a experiência clínica mostrou a Freud que a apropriação da realidade externa pelo sujeito é, na maioria das vezes, precária. Talvez seja por isso que o tema da realidade seja tão recorrente na obra freudiana, a ponto se tornar o eixo em torno do qual algumas noções fundamentais da psicanálise foram, gradativamente, sendo construídas.
            Encontramos no texto “A negativa” [1](Die Verneinung), publicado em 1925, uma das mais densas elaborações a respeito da questão da constituição da realidade. Apesar de ser um texto curto é de extrema importância, pois Freud levanta uma discussão que concerne ao próprio campo filosófico, ao mesmo tempo em que traz uma contribuição do campo psicanalítico, para a discussão a respeito da origem do pensamento.
            Freud vai examinar a origem da função do juízo, apontando as condições necessárias a partir das quais se torna possível a existência do sujeito humano no mundo. Em última instancia, é em torno da questão da estruturação psíquica do sujeito que o texto gira.   Tomando alguns exemplos de denegação[2] que ocorrem na clínica, o autor aponta que a negativa é um modo de tomar conhecimento do recalcado em um plano intelectual. Seria uma suspensão (Aufhebung) do recalque e não sua aceitação, pois o essencial do recalque permanece intocado. Entende-se, portanto, que será no plano da enunciação que a divisão radical que funda o sujeito, se revela.
            O texto mostra que tanto o recalque quanto a negação são operações que pressupõe que algo foi representado, isto é, afirmado na esfera psíquica. Primeiro é necessário afirmar, inscrever algo, para depois negar. Como vimos anteriormente, o recalque é a separação da idéia em relação ao afeto. Na negativa, a suspensão do recalque opera apenas em relação ao que impede que o conteúdo da idéia alcance a consciência, por isso, há uma admissão intelectual do recalcado, mas o afeto não se articula. [3]
            Freud indica que os atos de confirmar (bejahen) ou negar (verneinen) o conteúdo dos pensamentos, corresponde à função psíquica de emitir juízos. Afirma que:

Negar (verneinen) algo basicamente que dizer: “Isto eu prefiro recalcar”. A atitude de condenar algo nada mais é do que um substituto intelectual do recalque e o “não” é sua marca, um certificado de origem, com se fosse um “made in Germany”. Por meio do símbolo da negativa o pensar liberta-se das restrições do recalque e se acrescenta de conteúdos dos quais não podia prescindir na sua atividade.[4]


            Em seguida, aponta que a função do juízo está relacionada com duas espécies de decisões: atribuir ou não atribuir uma propriedade a uma coisa , isto é, quando se confere um atributo de bom ou mal para o objeto e admitir ou impugnar a existência de uma representação (Vorstellung) na realidade. De um lado temos o juízo de atribuição regido pelo princípio do prazer e do outro o juízo de existência regido pelo princípio de realidade. No juízo de atribuição vemos que o eu-prazer originário, deseja introjetar para dentro de si o que é bom ou prazeroso e colocar para fora tudo o que é mal. Freud afirma que inicialmente não há diferença entre o que é mal e o que se situa fora do eu. O bom é o que está dentro e o mal é o que se situa fora. Em outros termos, a distinção entre o que o é o eu e o que é estranho ao eu, isto é, o mundo externo, é o que dá uma consistência mínima ao princípio do prazer.
            A partir do juízo de atribuição é que se pode então colocar em ação o juízo de existência que consiste em verificar se a representação psíquica de uma coisa existe ou não no real. Freud assevera que o juízo de existência não se trata se algo percebido será ou não admitida ao eu, mas sim se existe uma representação no eu que corresponda a aquilo que é reencontrado a partir da percepção, ou seja, na realidade externa. Isso é o que Freud chamou de teste de realidade. O juízo de existência, portanto, “é uma questão de interesse do eu-real-definitivo, que se origina e se desenvolve a partir do eu-prazer inicial”.[5] Um fato a ser destacado é que a existência da representação já é, desde o início, a garantia da realidade do representado. Com isso, podemos observar que o juízo de existência é regido pelas leis do princípio de realidade, sendo, portanto seu correspondente.
            É importante lembrar que a oposição entre subjetivo e objetivo não existe desde o início e que para que ela se estabeleça é necessário o reencontro com os traços do objeto que outrora foi perdido. O pensar possui a capacidade de novamente presentificar, através da imaginação algo que foi percebido. Assim, não se trata de encontrar o mesmo objeto, mas algo que corresponda à representação do objeto que foi perdido nas origens. Reencontrar o objeto significa o mesmo que certificar-se de que ele existiu um dia e que foi representado pelo sujeito na esfera psíquica. O reencontro do objeto é na verdade o reencontro com as marcas de prazer representadas a partir da primeira experiência de satisfação que possibilitam o surgimento do desejo. Entretanto, a satisfação obtida a partir desse reencontro é sempre parcial, o que significa dizer que ele estará sempre fadado ao fracasso.[6]
            Outra faculdade do pensar que contribui para o afastamento entre subjetivo e o objeto é o fato de que a representação mental do objeto passa por deformações e que por isso, nem sempre corresponde ao esperado. Cabe ao teste de realidade identificar até que ponto chegam essas deformações. Nesse mesmo sentido, com Freud, podemos pensar que aquilo que é recolhido do objeto corresponde apenas a um traço, um fragmento que se torna o representante da coisa e não a coisa em si. Cabe ressaltar que o objetivo do teste de realidade não é de encontrar na percepção o objeto real, mas reencontrar um objeto que corresponda ao imaginado, e que a pré-condição para sua realização seria que os objetos que outrora trouxeram satisfação tenham sido perdidos. Ao operar o teste de realidade o eu suspende a ação do principio de prazer, submete-o ao princípio de realidade ao mesmo tempo em que promove o adiamento da satisfação.[7]
            A função intelectual do julgar tem, por outro lado, grande importância no controle da ação motora exercida pelo eu. Freud indica que o pensamento serve como um tempo necessário para que o eu faça o reconhecimento do objeto e assim decida se deve ou não por um fim ao adiamento da descarga. Assim, a função intelectual conduz do pensamento à ação.
            Por fim, Freud conclui que a afirmação e a negação correspondem aos dois pólos pulsionais que regem o psiquismo humano. A afirmação (Bejahung) como um elemento de afirmação está ligada a Eros, que corresponde à pulsão de vida e a negativa (Verneinung) corresponde a própria ação da pulsão de morte cuja tendência é de expulsar, desligar-se, manter afastado tudo o que possa causar desprazer.
            O texto “A negativa” revela que a constituição da realidade para o sujeito dá-se a partir de uma operação simultânea em que há a inscrição de um primeiro dentro que corresponde a operação da afirmação (Bejahung) e a expulsão (Ausstossung) de tudo que é experimentado como desprazeroso. A negativa (Verneinung) seria a sucessora da expulsão estando, portanto ligada a da pulsão de morte. O que é proposto no texto é uma hipótese a respeito da constituição do psiquismo e, consequentemente, da realidade a partir de dois juízos: atribuição e existência. O primeiro corresponde ao império do princípio do prazer e o segundo corresponde ao princípio de realidade. Freud indica que, para que algo que é da ordem da realidade se constituía para o sujeito é necessário que haja uma expulsão primária, que nada mais é que a assimilação pelo aparelho psíquico da impossibilidade de obter a satisfação total do desejo. Para que o eu seja capaz de exercer a função do juízo de existência, isto é, do teste de realidade é necessário que o símbolo da negativa tenha sido criado nos primórdios da constituição do psiquismo. A criação do símbolo da negativa é, portanto, aquilo que possibilita um posicionamento do sujeito no mundo.   Um fato que fica evidente no texto é que tanto o juízo de atribuição quanto o juízo de existência são operações agenciadas sob o domínio do princípio do prazer, e revelam sua tendência unificadora.
            A negativa coloca em evidencia é a existência de uma a linha divisória entre as estruturas neurótica e psicótica. A admissão de algo seguido de sua expulsão seria o que caracteriza a estrutura neurótica. A neurose, portanto, se estrutura a partir da fusão[8] entre pulsão de vida e pulsão de morte. Por outro lado, quando não acontece a expulsão (Austossung) originária, o que se instala é o negativismo, que segundo Freud, é característico da psicose. O negativismo é um sinal de que houve a retirada dos componentes libidinais, ou seja, de que houve a desfusão e separação das pulsões.[9] Enquanto que o negar ocorre no nível do pensamento, o negativismo corresponde a uma atitude em que o próprio ser do sujeito é negado, ou seja, não há a afirmação de algo pelo seu contrário. Enquanto que o negar evidencia a possibilidade para que aquilo que é impossível de ser admitido pelo psiquismo seja representado, a negatividade aponta justamente para a impossibilidade de que a representação ocorra.
            O exame destes mecanismos evidencia que o que permite diferenciar a estrutura psicótica da estrutura neurótica é a posição que o eu assume em relação à representação primordial. É aqui que podemos identificar o corte fundamental entre realidade psíquica e realidade exterior. A diferença essencial consiste no fato de que aquilo que é representado pelo eu passa a constituir sua realidade mais íntima, composta pelo registro das imagens, pelas identificações e fantasias instituídas no momento da estruturação do narcisismo. A partir desses dados, pode-se então pensar que as representações primordiais constituintes do eu, funcionam como um filtro por meio do qual ele apreende a realidade material. É como se o eu operasse um recorte na realidade externa seguindo linhas determinadas por sua realidade interior. Entretanto, há algo dessa realidade que é intolerável para o eu e que por isso ele deve mascarar, obturar. Freud chamou de “rochedo da castração”, isso contra o qual o eu luta incessantemente desde seus primeiros momentos de existência. A castração coloca em cena a realidade de que o objeto de satisfação do desejo inexiste. Paradoxalmente, é o fato de sua inexistência que faz com o desejo emerja possibilitando outras formas de existência para o sujeito humano.

Referências

[1] FREUD, Sigmund. (1925) A negativa in Escritos sobre a psicologia do inconsciente. Obras Psicológicas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro:Imago. 2004. Tradução de Luiz Alberto Hans. 
[2] [2] “Agora o sr. deve estar pensando que eu queria dizer algo ofensivo, mas realmente não é essa minha intenção.” “ (...) O senhor me pergunta quem poderia ser essa pessoa no meu sonho. Não é minha mãe”. E nós corrigimos: Portanto, é sua mãe”. Idem pg. 147 (grifo nosso).
[3] Ibidem pg.148.

[4] Ibidem pg.148.
[5] Ibidem pg. 149.
[6] Lacan retoma essa questão no Seminário 7 – A ética da psicanálise, para mostrar que a análise se dirige para algo que é da ordem do real e não do ideal.
[7] Tais afirmações vêm de encontro ao que fora anunciado por Freud no texto Projeto para uma psicologia científica, sobre o qual tratamos no início desse trabalho.
[8] Essa questão nos remete ao texto O problema econômico do masoquismo publicado em 1924, em que Freud postula a existência de um masoquismo originário responsável por fusionar as pulsões. Aqui, podemos inferir que é a afirmação e a expulsão de algo no psiquismo aquilo que torna possível a fusão das pulsões. Quando há a defusão das pulsões o que prevalece é o domínio da pulsão de morte.
[9] Ibidem pg. 150.

domingo, 26 de maio de 2013

Sobre a transitoriedade - Sigmund Freud

            Não faz muito tempo empreendi, num dia de  verão, uma caminhada através de  campos sorridentes na companhia de um amigo  taciturno e de um poeta  jovem mas  já  famoso. O poeta admirava a beleza do cenário à nossa volta, mas não extraía disso qualquer alegria. Perturbava-o o pensamento de que toda aquela beleza estava fadada à extinção, de que desapareceria quando sobreviesse o  inverno, como  toda a beleza humana e  toda a beleza e esplendor que os homens criaram ou poderão  criar. Tudo aquilo que, em outra  circunstância, ele  teria amado e admirado, pareceu-lhe despojado de seu valor por estar fadado à transitoriedade.
            A  propensão  de  tudo  que  é  belo  e  perfeito  à  decadência,  pode,  como  sabemos,  dar margem a dois  impulsos diferentes na mente. Um  leva ao penoso desalento  sentido pelo  jovem poeta, ao passo que o outro conduz à  rebelião contra o  fato consumado. Não! É  impossível que toda essa beleza da Natureza e da Arte, do mundo de nossas  sensações e do mundo externo, realmente  venha  a  se  desfazer  em  nada.  Seria  por  demais  insensato,  por  demais  pretensioso acreditar nisso. De uma maneira ou de outra essa beleza deve ser capaz de persistir e de escapar a todos os poderes de destruição.
            Mas  essa  exigência  de  imortalidade,  por  ser  tão  obviamente  um  produto  dos  nossos desejos,  não  pode  reivindicar  seu  direito  à  realidade;  o  que  é  penoso  pode,  não  obstante,  ser verdadeiro.  Não  vi  como  discutir  a  transitoriedade  de  todas  as  coisas,  nem  pude  insistir  numa exceção  em  favor  do  que  é  belo  e  perfeito.  Não  deixei,  porém,  de  discutir  o  ponto  de  vista pessimista do poeta de que a transitoriedade do que é belo implica uma perda de seu valor. Pelo contrário,  implica um aumento! O valor da  transitoriedade é o valor da escassez no tempo.  A  limitação  da  possibilidade  de  uma  fruição  eleva  o  valor  dessa  fruição.  Era incompreensível,  declarei,  que  o  pensamento  sobre  a  transitoriedade  da  beleza  interferisse  na alegria que dela derivamos. Quanto à beleza da Natureza, cada vez que é destruída pelo inverno, retorna no ano seguinte, do modo que, em relação à duração de nossas vidas, ela pode de fato ser considerada eterna. A beleza da forma e da face humana desaparece para sempre no decorrer de nossas próprias vidas; sua evanescência, porém, apenas lhes empresta renovado encanto. Uma flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela. Tampouco posso compreender melhor  por  que  a  beleza  e  a  perfeição  de  uma  obra  de  arte  ou  de  uma  realização  intelectual
deveriam perder seu valor devido à sua limitação temporal. Realmente, talvez chegue o dia em que os  quadros  e  estátuas  que  hoje  admiramos  venham  a  ficar  reduzidos  a  pó,  ou  que  nos  possa suceder uma  raça de homens que venha a não mais compreender as obras de nossos poetas e pensadores, ou talvez até mesmo sobrevenha uma era geológica na qual cesse toda vida animada sobre a Terra; visto, contudo, que o valor de toda essa beleza e perfeição é determinado somente por  sua  significação  para  nossa  própria  vida  emocional,  não  precisa  sobreviver  a  nós, independendo, portanto, da duração absoluta.
            Essas  considerações  me  pareceram  incontestáveis,  mas  observei  que  não  causara impressão  quer  no  poeta  quer  em meu  amigo. Meu  fracasso  levou-me  a  inferir  que  algum  fator emocional poderoso se achava em ação, perturbando-lhes o discernimento, e acreditei, depois, ter descoberto o que era. O que lhes estragou a fruição da beleza deve ter sido uma revolta em suas mentes  contra  o  luto.  A  idéia  de  que  toda  essa  beleza  era  transitória  comunicou  a  esses  dois espíritos  sensíveis  uma  antecipação  de  luto  pela morte  dessa mesma  beleza; e,  como  a mente instintivamente  recua  de  algo  que  é  penoso,  sentiram  que  em  sua  fruição  de  beleza  interferiam pensamentos sobre sua transitoriedade.
            O luto pela perda de algo que amamos ou admiramos se afigura tão natural ao leigo, que ele  o  considera  evidente  por  si mesmo.  Para  os  psicólogos,  porém,  o  luto  constitui  um  grande enigma, um daqueles fenômenos que por si sós não podem ser explicados, mas a partir dos quais podem  ser  rastreadas  outras  obscuridades.  Possuímos, segundo parece, certa  dose  de capacidade para o amor - que denominamos de libido - que nas etapas iniciais do desenvolvimento é dirigido no sentido de nosso próprio ego. Depois, embora ainda numa época muito  inicial, essa libido é desviada do ego para objetos, que são assim, num certo sentido, levados para nosso ego. Se os objetos  forem destruídos ou se  ficarem perdidos para nós, nossa capacidade para o amor (nossa  libido)  será mais uma  vez  liberada e poderá então ou  substituí-los por outros objetos ou retornar  temporariamente ao ego.
            Mas permanece um mistério para nós o motivo pelo qual esse desligamento  da  libido  de  seus  objetos  deve  constituir  um  processo  tão  penoso,  até  agora  não fomos capazes de formular qualquer hipótese para explicá-lo. Vemos apenas que a libido se apega a seus objetos e não  renuncia àqueles que se perderam, mesmo quando um substituto se acha bem à mão. Assim é o luto.
            Minha palestra com o poeta ocorreu no verão antes da guerra. Um ano depois, irrompeu o conflito  que  lhe  subtraiu  o mundo  de  suas  belezas. Não  só  destruiu  a  beleza  dos  campos  que atravessava e as obras de arte que encontrava em seu caminho, como  também destroçou nosso orgulho pelas realizações de nossa civilização, nossa admiração por numerosos filósofos e artistas, e nossas esperanças quanto a um  triunfo final sobre as divergências entre as nações e as raças. Maculou a elevada imparcialidade da nossa ciência, revelou nossos instintos em toda a sua nudez e soltou de dentro de nós os maus espíritos que julgávamos terem sido domados para sempre, por séculos de  ininterrupta educação pelas mais nobres mentes. Amesquinhou mais uma vez nosso
país  e  tornou  o  resto  do  mundo  bastante  remoto.  Roubou-nos  do  muito  que  amáramos  e mostrou-nos quão efêmeras eram inúmeras coisas que consideráramos imutáveis.
            Não pode surpreender-nos o  fato de que nossa  libido, assim privada de  tantos dos seus objetos, se tenha apegado com intensidade ainda maior ao que nos sobrou, que o amor pela nossa pátria, nossa afeição pelos que se acham mais próximos de nós e nosso orgulho pelo que nos é comum, subitamente se  tenham  tornado mais vigorosos. Contudo, será que aqueles outros bens, que  agora  perdemos,  realmente  deixaram  de  ter  qualquer  valor  para  nós  por  se  revelarem  tão perecíveis  e  tão  sem  resistência?  Isso  parece  ser  o  caso  de muitos  de  nós;  só  que,  na minha opinião, mais uma vez, erradamente. Creio que aqueles que pensam assim, de e parecem prontos a  aceitar  uma  renúncia  permanente  porque  o  que  era  precioso  revelou  não  ser  duradouro, encontram-se simplesmente num estado de  luto pelo que se perdeu. O  luto, como sabemos, por mais  doloroso  que  possa  ser,  chega  a  um  fim  espontâneo.  Quando  renunciou  a  tudo  que  foi perdido, então  consumiu-se a  si próprio, e nossa  libido  fica mais uma  vez  livre  (enquanto ainda formos  jovens e ativos) para substituir os objetos perdidos por novos  igualmente, ou ainda mais, preciosos.  É  de  esperar  que  isso  também  seja  verdade  em  relação  às  perdas  causadas  pela presente guerra. Quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito em que tínhamos as riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura do que antes.

Referência:
FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro:Imago.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Melancolia: a identificação em questão


         O interesse de Freud pela melancolia aparece desde cedo em suas correspondências com Fliess. Observamos que no manuscrito G, enviado a Fliess provavelmente em 1895, a correspondência entre a melancolia e o afeto do luto já era concebida por Freud. Coloca que, em ambos os casos, o desejo de recuperar algo que foi perdido coloca-se como a causa desses estados, entretanto afirma que a melancolia consiste de uma perda na vida pulsional, ou seja, perda de libido[1]. Posteriormente, a introdução da teoria do narcisismo e da noção de ideal do eu, permitirá que Freud retome a questão da Melancolia, dando-lhe novos contornos.
            As relações entre o eu e o objeto perdido será o eixo central do texto “Luto e melancolia” publicado em 1917, em que Freud empreende uma correlação entre o estado normal de luto e a melancolia. Nesse texto, Freud nos apresenta a melancolia como um quadro em que o eu é grandemente modificado pelas identificações.
            Freud reitera que tanto o luto quanto a melancolia constituem-se como uma “reação” a perda de um objeto. No luto esse objeto pode ser tanto uma pessoa amada, como as abstrações colocadas em seu lugar, tais como a pátria, a liberdade ou até mesmo um ideal. Nesse estado, o eu o é absorvido por um estado de ânimo doloroso que ocasiona a perda do interesse pelo mundo exterior, salvo por aquilo que relembra a pessoa amada. No luto a realidade parece passar por um esvaziamento, o que exige que um trabalho seja feito. Mas, em que consiste o trabalho de luto? É a pergunta que Freud se faz.

Acho que não parecerá forçado apresentá-lo da seguinte forma: o teste de realidade mostrou que o objeto amado não mais existe, de modo que o respeito pela realidade passa a exigir a retirada de toda a libido das relações anteriormente mantidas com esse objeto.[2]

            No trabalho de luto a perda do objeto deve ser confirmada através do teste de realidade, mas nesse processo faz-se necessário retirar toda a libido nele investida, o que não é feito sem que haja uma resistência por parte do eu.  O ser humano, indica Freud, nunca abandona de bom grado uma posição libidinal antes ocupada, sendo que a recusa, em certos casos, opera uma fuga da realidade e a relação com o objeto é mantida por meio de uma psicose alucinatória. O que é esperado é que a realidade saia vitoriosa desse embate e que o eu, ao completar o trabalho de luto, se torne novamente livre e sem inibições. [3]
            A melancolia apresenta características similares às do luto, tais como o estado de ânimo doloroso, a suspensão do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar e a inibição geral para realizar tarefas. Mas, além desses traços, Freud distingue na melancolia um outro traço que não está presente no luto: a depreciação do sentimento-de-Si. Na melancolia, a questão é um pouco mais complexa que no luto, pois a perda nem sempre se relaciona com a morte do objeto, sendo, muitas vezes de natureza ideal, como nos casos em que relações amorosas são rompidas. Na melancolia o objeto perdeu-se como objeto de amor. Freud salienta que mesmo nos casos em que a perda tenha de fato ocorrido, o sujeito pode ter clareza de quem ele perdeu, mas não o que perdeu no objeto amado desaparecido. Assim, na melancolia, diferentemente do luto, a perda do objeto escapa à consciência, não sendo possível identificar no mundo exterior uma razão para essa perda. Freud afirma: No luto, o mundo tornou-se pobre e vazio; na melancolia, foi o próprio eu que se empobreceu.[4] O empobrecimento do eu, característico da melancolia se revela através da depreciação do sentimento-de-Si e nas recriminações e insultos dirigidos a si mesmo, que quase sempre se transforma numa expectativa delirante de ser punido. Essas reações são na verdade conseqüências do trabalho psíquico que consome o eu e que se assemelha ao trabalho do luto.
            A melancolia revela dois fatos importantes a respeito do eu humano. O primeiro diz respeito ao fato de que nessa afecção, uma parte do eu do paciente se contrapõe à outra e a avalia de forma crítica. Em outros termos, uma parcela do eu trata a outra como se fosse um objeto. A consciência moral[5], nome dado por Freud a essa instância crítica distinta do eu, está, juntamente com a censura e o teste de realidade, entre as grandes instituições do eu. A melancolia, portanto, ressalta a ação dessa instancia critica que constantemente desaprova o eu e lhe impõe as mais severas recriminações. As auto-recriminações presentes na melancolia são recriminações dirigidas a um objeto amado, as quais foram retiradas desse objeto e desviadas para o eu. [6]
            O segundo ponto destacado por Freud, e que julgamos ter especial importância, é o fato de que na melancolia um investimento objetal é substituído por uma identificação. Nesse ponto, a questão das transformações produzidas no eu pelas identificações, passam a ser consideradas como sendo a uma característica peculiar da melancolia. O que as identificações podem revelar a respeito das relações entre o eu e a realidade?
            Freud considera:

A libido então liberada, em vez de ser transferida a outro objeto, foi recolhida para dentro do eu. Lá essa libido não foi utilizada para uma função qualquer, e sim para produzir uma identificação do eu com o objeto que tinha sido abandonado. Assim, a sombra o objeto caiu sobre o eu. (...) a perda do objeto transformou-se em uma perda de aspectos do eu, e o conflito entre o eu e a pessoa amada transformou-se num conflito entre a crítica ao eu e o eu modificado pela identificação.[7]

            Como vimos, em nossa abordagem acerca do narcisismo, a identificação é um processo que viabiliza a constituição do eu humano. De acordo com Freud, a forma tomada pelo eu será determinada pela sobreposição de investimentos objetais abandonados e transformados em identificações. Em outros termos, o eu se identifica a determinados traços dos objetos e os incorpora. Em “Luto e Melancolia” Freud, ratificando sua posição afirma que a identificação é o estágio que antecede a escolha de objeto.[8] É importante lembrar, que Freud só chegou a essas conclusões a respeito do eu humano por meio da análise das patologias narcísicas, dentre elas, a melancolia.
            Uma forte fixação no objeto e, por outro lado, um fraco investimento neste, seriam a precondição para que, na melancolia, a libido regrida para o eu. Acontece que, toda escolha objetal é narcísica, ou seja, o eu se liga a determinadas características do objeto que lhe dão a indicação da possibilidade de obter algum prazer. Na melancolia o eu, quando se vê diante de obstáculos enfraquece o investimento no objeto, e quando esse objeto é perdido a libido, ao invés de ser direcionada para outro objeto, regride para o eu. Como vimos, não há uma substituição do objeto amado, por isso Freud afirma que na melancolia o eu incorpora determinado aspecto do objeto por meio da identificação. Esses pontos levam a conclusão de que a melancolia é, como no luto, uma reação a uma perda real do objeto amado.[9]
            Como vimos anteriormente, no luto o eu consegue libertar-se do objeto perdido, passando a re-investir a libido em outros objetos. O trabalho do luto consiste em que o eu faça o teste de realidade até que, pouco a pouco, aceite que o objeto amado não existe mais. Mesmo que haja durante o processo de luto, um afrouxamento com a realidade, esta, gradativamente, vai sendo reconduzida à sua normalidade. Freud considera que na melancolia um processo semelhante é efetuado pelo eu, mas destaca que ainda não havia chegado a uma compreensão a respeito desse processo. O que se verifica é a ocorrência de um esvaziamento do eu na melancolia, fato que pode indicar um afrouxamento de seus vínculos com a realidade. É possível que as auto-acusações e a auto-depreciação, enquanto expressões da ambivalência que é própria à melancolia, evidenciem o esforço que é empreendido pelo eu para se livrar desse objeto por ele incorporado. A tendência ao suicídio, tão presente nos melancólicos, pode ser explicada por essa via, pois a morte do eu corresponde à morte do próprio objeto.[10]
            Por fim, Freud chega à conclusão de que, apesar de a melancolia apresentar aspectos que se assemelham ao luto, tais como a perda do objeto e a ambivalência, a pré-condição própria à melancolia seriam as autodepreciações que são na verdade, dirigidas ao objeto, o que aponta para o fato de uma ausência de mediação simbólica em relação ao objeto.

Obs.: Esse texto compõe parte de minhas pesquisas a cerca do eu em Freud e Lacan tema de minha dissertação de mestrado no UERJ. Portanto, qualquer pessoa pode citá-lo desde que mencione a fonte.



[1] Idem. Manuscrito G: Melancolia. Vol. I pg. 247.
[2] Idem. Luto e Melancolia. Vol. XIV pg. 250.
[3] Ibidem pg.251.
[4] Ibidem pg. 251.
[5] Em Psicologia de grupo e análise do eu, Freud chama essa instancia crítica de supereu.
[6] Ibidem pg.253.
[7] Ibidem pg.254.
[8] Ibidem pg. 255.
[9] Ibidem pg. 255.
[10] Ibidem pg. 257.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Da Verwerfung de Freud à foraclusão de Lacan


            Em seu texto “Sobre o narcisismo”, (1914 pg.89), Freud destaca que o estudo das psicoses poderia proporcionar um avanço para a compreensão interna da psicologia do eu. A tese freudiana apresentada nesse texto diz que nas psicoses ocorreria uma regressão da libido ao eu, ideia defendida já no início de suas investigações clínicas, e que foi registrada, dentre outros textos, em uma carta endereçada a Fliess em 1899 (carta 125) e na análise do caso Schreber (1912).  No texto citado, Freud opõe a libido do eu à libido do objeto, indicando a necessidade de um equilíbrio na distribuição da pulsão sexual. Nesse sentido, indica que o momento da eclosão da psicose seria aquele em que o excesso de investimento da libido no eu teria como conseqüência um rompimento com a realidade. Freud considerava que o cerne da questão da psicose estaria na incapacidade do eu em lidar com as exigências feitas pelo mundo externo. Na verdade, no momento da crise psicótica o que falha é justamente a capacidade de o eu fazer o teste de realidade, ou seja, de distinguir entre o que é uma alucinação de desejo e o que é uma percepção. Em outras palavras, o eu no momento da crise, não consegue inibir o processo primário de funcionamento do psiquismo que rege o inconsciente. O teste de realidade é uma função do eu que garantiria a existência do sujeito no mundo.
            Podemos notar que a questão da psicose foi abordada por Freud centrando-se, precisamente, na perda da realidade. No texto “A perda da realidade na neurose e na psicose”, (1924), enfatiza que existe uma impossibilidade de acesso direto a realidade, pois, algo ali, sempre se perde. Com isso considera que mais do que a perda da realidade o que interessa seria delinear de que forma o sujeito substitui a realidade. Destaca que na neurose é a fantasia que estrutura o sujeito possibilitando o acesso a alguma forma de prazer parcial.  Já no caso da psicose, diz Freud, o eu rejeita (Verwerfung) a realidade intolerável como um todo, ao mesmo tempo em que se afasta dela substituindo-a, em alguns casos, por uma nova realidade através do delírio. O delírio, para Freud, é um trabalho psíquico que permite o recobrimento daquilo que é impossível de ser simbolizado na realidade.
            O trabalho de reconfiguração da realidade é operado a partir de processos psíquicos formados a partir do contato com a realidade, ou seja, sobre os traços de memória, as representações e os juízos, por meio dos quais a realidade se fazia representar no mundo psíquico. Essas percepções estão sempre se modificando, assim para a psicose, coloca-se a tarefa de providenciar percepções que estejam em sintonia com a nova realidade, o que é conseguido de forma radical nos casos de paranóia, pela via do delírio.
            Lacan, (1955-56 pg. 170), retoma a questão das estruturas freudianas, para indicar que neurose e psicose são estruturas psíquicas cuja constituição se dá em função da inscrição ou não inscrição do significante Nome-do-pai. Dessa forma, entende-se que não se pode falar de neurose ou psicose sem uma referencia ao Édipo, pois ele é o divisor de águas entre essas duas estruturas. Por outro lado, podemos notar que desde o início, o interesse de Lacan pela psicose centra-se na questão das relações do sujeito com o campo simbólico, ou seja, como o sujeito apropria-se da linguagem, fazendo uso do significante da falta, mencionado anteriormente.
            Seguindo o caminho indicado por Freud, Lacan retoma a questão da constituição imaginaria do eu , para delimitar sua relação com o desencadeamento da psicose. Indica que o retorno da libido ao eu provoca uma inflação do registro imaginário, cuja conseqüência é o rompimento com a realidade (Lacan, 1955-56 pg. 174). Entretanto, a questão sublinhada por Lacan, é que no momento da crise o sujeito não consegue se apropriar da linguagem, no sentido de estabelecer uma barreira contra o real que o invade. Em outros termos, é o encontro com o real da castração, ou seja, da inexistência de um objeto obsoluto do desejo, aquilo que o sujeito é incapaz de simbolizar (Lacan, 1955-56 p. 105; 244). 
             A noção de rejeição (Verwerfung) da realidade, delineada por Freud, será retomada por Lacan no seminário sobre as psicoses, a despeito de suas elaborações sobre o mecanismo defensivo da psicose. Lacan utilizará o termo francês forclusion (foraclusão) como homólogo à expressão freudiana Verwerfung (rejeição). O termo Verwerfung, segundo Lacan, diz respeito a “a rejeição de um significante primordial em trevas exteriores, significante que faltará desde então nesse nível” (Lacan, 1955-56 pg. 178). A partir da análise do texto freudiano “A denegação”, indica que a realidade se estrutura para o sujeito em “termos significantes”.  Vai, posteriormente, relacionar a psicose à rejeição (Verwerfung) nas origens do sujeito, de um significante primordial, o significante Nome-do-pai. A foraclusão, para Lacan, diz respeito à abolição da lei simbólica, o que indica que na travessia do Édipo não houve a castração simbólica, não havendo, portanto, possibilidade de a significação fálica advir.
            Em outros termos, entende-se que a crise psicótica revela o momento em que as referencias identificatórias que estruturam o sujeito falham.  A dissolução do registro imaginário exige que o sujeito empreenda um verdadeiro remanejamento de seu mundo, o que é viabilizado pelo delírio. Entretanto, a produção da metáfora delirante por parte do sujeito psicótico mostra a insistência da ordem simbólica. É, portanto, uma forma de estabilização, ou seja, um modo de lidar com o real, possibilitando que o sujeito volte a se relacionar com os objetos mesmo que de uma forma persecutória. Com essa indicação, Lacan sublinha que o sujeito psicótico é capaz de criar saídas possíveis para o encontro traumático (Lacan, 1955-56 pg. 107-108).
            Essas questões serão retomadas posteriormente no seminário 5 – As formações do inconsciente – onde Lacan, (1957-58), explica que o significante Nome-do-pai funciona como um “pai simbólico”, ou seja, ele é um significante que introduz a lei, no sentido de que o objeto do desejo foi interditado para o sujeito desde as suas origens. Afirma que na neurose, o recalque é que permite que a cadeia significante continue a se deslocar. No caso da psicose, entretanto, é outra coisa, é Verwerfung, aponta Lacan:

Pode haver, na cadeia dos significantes, um significante ou uma letra que falta, que sempre falta na tipografia. O espaço do significante, o espaço do inconsciente, é realmente um espaço tipográfico, que é preciso tratar de definir como se constituindo de acordo com linhas e pequenos quadrados e corresponde a lei topológicas. Pode faltar alguma coisa numa cadeia dos significantes. Vocês precisam compreender a importância da falta desse significante especial do qual acabo de falar, o Nome-do-pai, no que ele funda como tal o fato de existir a lei, ou seja, a articulação numa certa ordem do significante – complexo de Édipo, ou lei do Édipo, ou lei da proibição da mãe. Ele é o significante que significa que, no interior desse significante, o significante existe. (Lacan, 1957-58 pg. 153).

            A partir dessas considerações, concluímos que nos primeiros anos de seu percurso, Lacan relaciona a eclosão da psicose à ausência de inscrição do significante Nome-do-Pai, o significante primordial que estrutura o sujeito e que o insere na lei.  Entretanto, a noção de Nome-do-pai adquirirá, no rastro da obra lacaniana, novos contornos à medida que suas pesquisas a respeito das psicoses avançam na direção de tentar estabelecer uma direção clínica possível para o tratamento das psicoses. Essas questões não serão abordadas aqui, mas talvez, em outro momento, passamos avançar nossa pesquisa nessa direção.

 Referencias

FREUD, S. (1914) Sobre o narcisismo: uma introdução. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
_________ (1921) Psicologia de grupo e análise do eu. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
_________ (1924) A perda da realidade na neurose e na psicose. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
LACAN, J. (1955-56) O Seminário – livro 3 – As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
LACAN, J. (1957-58) O Seminário livro 5 As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
LACAN, J. (1959-60) O Seminário livro 7 A Ética da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
LACAN, J. (1961-62) O Seminário livro 9 La identificación. Edição eletrônica das Obras de Jacques Lacan em espanhol.
LEITE, Sonia. A Verwerfung e algumas soluções possíveis. No prelo.
QUINET, Antonio. Teoria e clínica da psicose. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2011.
SOLER, Colette. O inconsciente a céu aberto na psicose. Rio de Janeiro: Zahar. 2007.